3 de setembro de 2009

DESABAFO

Que o trabalho enobrece o homem, a gente já sabe!
Embora eu me sinta jovem ainda, estou completando 40 anos de serviço público. Estou cansada desse trabalho administrativo e, às vezes, jurídico. Mas não é o trabalho em si que me desaponta. É a rotina, a burocracia, a mesmice, essa mania que as pessoas tem de se acomodar, de fazer tudo mais ou menos, de confundir a sala de trabalho com as dependências de suas próprias casas. Falam alto ao telefone sobre os problemas pessoais, brigam com os filhos, as companheiras, contam as mazelas da situação financeira difícil, dos juros altos, dos impostos.
Trabalho num corredor transformado em sala: sem janelas ou iluminação natural.
Nunca sei se lá fora há sol, se está chovendo, se já escureceu. Agora o ar condicionado pifou, depois de sucessivos consertos. Levaram a carcaça. Áté que venha um aparelho novo vai demorar meses. A famosa burocracia da aquisição via licitação. Enquanto isso, tenho dor de cabeça diariamente e fico em desespero, sem ar, me abanando com o insignificante leque (que felizmente comprei na Espanha há algum tempo), acomodada diante do meu computador, enquanto a salvação não vem.
Ando pensativa sobre esse vício, sobre esse medo que temos de partir para outra, de saltar no precipício.
De tomar uma decisão e parar de trabalhar. Perder dinheiro e começar uma vida nova, sem muitas comodidades, mas com uma dose maior de tranquilidade.
Logo eu que tive uma infância difícil, que aprendi a costurar com 11 anos à luz de lamparinas; que cozinhava em fogão de lenha; que lava roupa no riacho e que levava uma vida tão simples, mas aconhegante e feliz, não tenho coragem de voltar para a simplicidade.
Mas vou conseguir, juro que vou!
Vou construir minha casinha em Pirenópolis (a minha Pasárgada) e fugir pra lá. Voltar as minhas origens goianas. Chegar na varanda e produzir minhas bolsas, minhas toalhas, meus pachworks, feliz, sentada na minha máquina de costura, de frente para a natureza...
Pronto, falei.