31 de março de 2010

MEXIDO

Hoje acordei faminta: por sonhos novos e por alimento.
Acordar bem disposta e feliz é uma dádiva. Senti que não me falta nada. Estou planando como os pássaros que, saciados do alimento, alçam longos vôos.
Pensei: o que me falta? Nada. Não, mentira. Acho que me falta encontrar alguém para ser o companheiro de todas as horas, aquela pessoa com qualidades e defeitos de verdade. Que me dê trabalho, me aborreça, às vezes, mas que ao entardecer me deixe recostar no seu ombro; depois comente comigo o noticiário, o filme que vai entrar em cartaz, a última artimanha de alguns políticos e que ria comigo da piada que recebemos pela internet; que aceite viajar a qualquer hora do dia ou da noite numa viagem resolvida em cima da hora. Mas tudo isso é mesmo um sonho. E enquanto não se realiza, vou continuando assim feliz e plena.
E por falar em fome de alimento, lembrei daquele que é improvisado e que todo goiano ou goiana sabem preparar: o Mexido.
O que é o mexido goiano? É o abraço das sobras.
Tire da geladeira sobras de carne, frango, linguiça ou presunto. Desfie-os ou pique-os. Acrescente sobras de arroz , milho verde, azeitonas e ou queijo cortado em cubos e reserve. Numa frigideira refogue alho picado e doure-o. Depois acrescente cebola picada, salsa e cebolinha. Acrescente, ainda, alguns ovos batidos e mexa bem, colocando sal a seu gosto. Misture esse refogado com os ingredientes que estavam reservados. E está pronto o mexido.
Deguste esse verdadeiro MEXIDO com prazer (você merece), sem pensar em gordurinhas, celulites ou calorias.

30 de março de 2010

O SILÊNCIO

Ando sentindo, de uns tempos para cá, uma grande paixão pelo silêncio.
Parece absurdo, mas é verdade! Vontade de me perder no silêncio, mesmo ao lado de outras pessoas. É incrível como a maioria gosta do barulho, da agitação, do entra e sai, das buzinas, dos gritos, da algazarra das crianças.
Não sou diferente: gosto também de conviver com meus filhos e brincar com os netos, de conversar com meus amigos, de compartilhar idéias.
Mas, chegar no refúgio da minha casa não tem preço. É quando me encontro, entro em sintonia com meus anjos e meus monstros. E costuro e converso com minha mãe (que já se foi) que era exímia costureira e me tira dúvidas quando preciso; é quando cantarolo minhas canções preferidas; quando comento sozinha, na frente da TV os absurdos cometidos pelos políticos, pelos assassinos, pelos ladrões. É quando me enterneço com o pássaro que canta na minha janela, quando descubro mais uma fruta que não estava no galho da mangueira na semana anterior, quando noto as pessoas passando alegres com seus filhos na calçadinha em frente e as abençõo sem que saibam.
Mas sozinha, sempre mergulhada no silêncio. Essa paz que me envolve é que me permite refletir, filosofar, entender Pessoa e Simone, admirar o que vejo e o que não vejo e ser grata à vida pelo que recebo.
Difícil de entender? Tudo bem, mas é muito bom, gente! Um dia vocês chegam lá e me darão razão.
Clarisse Lispector já dizia: " Nao se pode falar do silêncio como se fala da neve.
O silêncio é a profunda noite secreta do mundo. E não se pode falar do silêncio como se fala da neve: sentiu o silêncio dessas noites?
Quem ouviu não diz. Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras."

ERROS

Já viram como nós disfarçamos para não assumirmos nossos erros?
Com vocês é assim? Pois comigo também.
Buscamos de todas as formas argumentos para os nossos erros: só agi assim por causa disso assim assim; só tomei essa atitude porque fulano me aborreceu, me tirou do sério. E por aí vai.
Tudo para não dizer: sim, errei!
Também sou assim: não sou santa coisa alguma! Vivo atirando minhas setas em direção aos outros.
Mas hoje, em minha oração matinal diante da sabedoria de Clarice, a Lispector, aprendi que podemos e devemos assumir nossos erros. Que mal há nisso? Um pouco de humildade não faz mal a ninguém. E assim, podemos ser coerentes. Vejam:
"Passei a minha vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar. Ao tentar corrigir um erro, eu cometia outro. Sou uma culpada inocente."

4 de março de 2010

AMAR NÃO TEM IDADE

Hoje li num jornal local uma história interessante: uma mulher de 78 anos que relata sua alegria por estar namorando um homem de 40. Achei muito bonito o relato, mas não acreditei nele.
O tempo e as minhas experiências fizeram de mim uma mulher mais cética com relação ao amor.
Fiquei pensando cá com meus botões: isso não pode ser verdade!
A maioria dos homens só se apaixona pelo que seus olhos vêem.
Quando uma mulher é gordinha, ainda que bonita e elegante, nunca mais é vista com olhos masculinos desejosos.
Que importam aos homens se é uma pessoa linda interiormente?
Quem disse que querem descobrir sua sensibilidade, seu carinho generoso,
seu desprendimento, sua capacidade enorme de doação, de querer fazer
o outro feliz?
Para que descubram nas mulheres esses talentos, seria preciso que os homens se aproximassem, que convivessem com elas, que se permitissem abrir os braços pra receber seu abraço.
Mas isso não acontece quando sua cintura não é tão fina, se o seu bumbum
não é tão avantajado e E se já não tiverem mais a jovialidade de antes.
É por isso que fiquei incrédula diante da história que li.
Quanto aos homens maduros, a maciça maioria dirige seus olhares para as mulheres com idade de serem suas filhas ou netas. Pura falta de sabedoria. De inteligência mesmo.
Sabem por que? Porque há um abismo entre essas gerações. Um dia essa diferença emerge.
Enquanto os idosos não tem mais pernas tão ágeis, nem o ânimo da juventude, as meninas
que eles desejam querem mesmo é ir para as baladas que se estendem até altas madrugadas.
Mas eles ignoram essas e outras diferenças.
Muitos dão-lhes uma vida cômoda de luxo e mimos e levam-nas para longos passeios em shopings, onde poderão ser vistos, de mãos dadas com "a gata".
E ficam realizados, mesmo que saibam que daí a algum tempo podem
ser trocados por um "gato.