23 de novembro de 2010

MULHERES PIONEIRAS


Dia 17 último foi mais um dia especial para mim.
Foi o lançamento de um livro, documentário e exposição POEIRA & BATON, um trabalho de autoria de Tânia Fontenele Mourão e Mônica Ferreira Gaspar de Oliveira, bem como Tânia Quaresma, com as fotos e co-direção do documentário.
O trabalho, um projeto excelente com o apoio do Governo Federal e Petrobrás, veio resgatar histórias vividas por cinquenta mulheres pioneiras de Brasília, entre as quais eu tenho a honra de ter sido incluída.
Aqui chegamos entre 1957 e 1960, enfrentando uma realidade difícil na Cidade Livre e em Acampamentos de construtoras incumbidas de construir em curto espaço de tempo a nova capital federal - BRASÍLIA. Tornando realidade o sonho de Dom Bosco e de Juscelino.
O resultado do projeto revelou-se magnífico e deixa para as gerações futuras textos, fotos e imagens nossas, - essas mulheres trabalhadoras e corajosas - e dos bravos homens que aqui chegaram, candangos e autoridades.

18 de novembro de 2010

LYA LUFT - MAIS UM POEMA

Quando o Gotte, meu marido e pai dos meus filhos nos deixou, fiquei aturdida sem poder perder-me; golpeada sem poder cair, porque meus braços e meu coração precisavam, mais do que nunca, envolver meus filhos também golpeados.
Encontrei abrigo na dor de Lya Luft. Ela sabia exatamente o que eu sentia. Nossas dores e situações vividas eram quase as mesmas.
Hoje, encontrei um dos seus livros que à época me confortavam.
Posto agora um de seus poemas em que relata o cotidiano com o seu então companheiro Hélio, falecido:

"O meu amado tinha muitos amigos.
Alguns, especiais, gostava de trazer em casa.
Pedia-me um jantar diferente
para um, dois, ou mesmo dez.
Era a homenagem que fazia aos que amava.
O vinho revelava outro sabor ao lado dele,
as palavras revestiam em sua boca um significado singular:

dizia termos que ninguém usava
e nele esplendiam.

Eu me calava para ouvir
e ver a alegria da amizade inchar seu coração.

(Sua mão procurava a minha no sofá
para dizer que em nenhum momento
me esquecia.)"

17 de novembro de 2010

REFLEXÃO

Já estamos quase no final de novembro. O ano passou tão depressa!
Tantos planos fizemos, tantos sonhos sonhamos para 2010 e, de repente, percebemos que não realizamos todos, que não cumprimos o que programamos: cuidar da saúde, melhorar a qualidade de vida, praticar esportes, retomar os estudos, emagrecer, ser mais pacientes, mais carinhosos, mais caridosos. Enfim, todos nós, além das orações de agradecimentos e pedidos de bênçãos, prometemos tantas coisas...
Falo por mim. Jurei perder peso para aliviar um problema de coluna lombar, prometi fazer caminhadas, melhorar o humor, ser mais paciente.
Ah, a paciência... Acho que vim a este mundo (desta vez) para aprender a paciência e não fiz muitos progressos.
Continuo severa com os que praticam a injustiça, ao invés de compreendê-los e ajudá-los.
Continuo irritada com os políticos corruptos, ao invés de me lembrar que nós eleitores é que escolhemos mal.
Continuo criticando os que agem mal, os que não cuidam da natureza e prejudicam o planeta, os que poluem os nossos olhos e ouvidos, os que nos destratam, os que pedem dinheiro nos sinais para comprarem bebidas e drogas, e tantos outros que me desagradam.
Mas eu, de minha parte, nada tenho feito de tão significativo para melhorar o contexto.
Faço a minha parte, apenas. Fechada no meu mundinho, na minha redoma, buscando apenas me proteger. Ao invés de trabalhar a paciência e a tolerância, fujo.
Tenho fugido de tudo. Da convivência mais frequente com os amigos, para fugir do trânsito sempre engarrafado; da busca de um novo amor, para fugir de novas decepções.
Quando findar 2010, nada quero prometer que não possa cumprir, ou me esforçar para cumprir.
Prefiro não ter grandes projetos, mas viver cada dia em harmonia comigo e com meus semelhantes. Procurar fazer o melhor que puder, dar o melhor de mim em cada gesto, em cada palavra de compreensão. Dar um passo de cada vez, devagarinho, silenciosamente, humildemente.

10 de novembro de 2010

ESTAGNAÇÃO

Desde minha última postagem, vivo o conflito de ter que alimentar meu blog e não sentir desejo de escrever.
Acho que sou uma falsa poeta. Ou simplesmente um ser humano confuso, ambivalente.
Quando decidi criar o blog, ingenuamente pensei que iria interagir com leitores.
Mas, diferentemente de outros blogueiros, minha atividade tem sido solitária. Posto o que tenho vontade, escrevo o que me sai do coração ou da razão e minhas palavras não encontram eco.
Não recebo comentários nem críticas. Morro na inanição. Não existe troca de opiniões, argumentos com quem quer que seja. Fiquei desestimulada.
Mesmo assim fico me cobrando e permanece em mim uma certa angústia de ter de escrever e, ao mesmo tempo, não sentir vontade de fazê-lo.
Tenho me sentido, por conta de disso, um ser estranho, desonesto, inadequado.
Hoje, porém, lendo mais uma vez Fernando Pessoa, encontrei um texto em que ele trata dessa mesma questão. Porisso repasso, com um certo alívio, porque me senti compreendida:
"Há muito tempo que não escrevo. Têm passado meses sem que viva, e vou durando, entre o escritório e a fisiologia, numa estagnação íntima de pensar e de sentir. Isto, infelizmente, não repousa: no apodrecimento há fermentação.
Há muito tempo que não só não escrevo, mas nem sequer existo. Creio que mal sonho. As ruas são ruas para mim. Faço o trabalho do escritório com consciência só para ele, mas não direi bem sem me distrair: por detrás estou, em vez de meditando, dormindo, porém estou sempre outro por detrás do trabalho.
Há muito tempo que não existo. Estou sossegadíssimo. Ninguém me distingue de quem sou.
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Há muito tempo que não sou eu."