29 de setembro de 2010

POEMAS

De Darcy Denófrio:
"O outro - o enigma
que me escapa
areia entre os dedos.
Não é o inferno - o outro.
É apenas o mistério
que jamais alcanço
bem ali sob meus olhos
plenos de escamas."

De Lia Luft:
"O meu amado era um homem impaciente:
brigava no trânsito, detestada filas,
batia portas com força quando perdia suas coisas.
Certa vez rachou um telefone que não dava linha;
reclamava de ir ao dentista.
Mas quando um dia chorei porque ele falava aos gritos,
mandou-me rosas que espalhei pela casa toda.
Ainda hoje elas florescem para onde quer que eu me volte"

De Clarisse Lispector:
"Fique de vez em quando sozinho,
senão você será submergido.
Até o amor excessivo dos outros
pode submergir uma pessoa."

20 de setembro de 2010

CORAÇÃO CANSADO


Meu coração está cansado
de brincar comigo.
Recusa-se a se enternecer,
Vira-me as costas.
Está aborrecido mesmo: não me dá a mão,
não canta, sorri ou brinca de amarelinha comigo.
Está mesmo de mal de mim.
E o pior: não quer distrair ninguém
com textos ou poemas.
Tudo bem. Vai passar...

15 de setembro de 2010

SONHO BRANQUINHO

o silêncio
ouve meu canto
sem platéia.
Alinhavo
meus retalhos
enquanto o sol
lá fora
me promete
amanhãs
melhores.
Vago nas nuvens,
me perco em sonhos.
A agulha trôpega
faz seu estrago.
O sangue
manchou o tecido
mas o sonho continuou
tão branquinho...

13 de setembro de 2010

FERIDA ESCONDIDA

Ontem fui quem não sou.
Hoje sou diferente do que serei.
Nem eu, nem meus sonhos são mais os mesmos.
Tenho saudades do meu lado ingênuo,
que se foi.
Não que eu tenha me tornado uma pessoa amarga,
mas já não rio meu riso solto, infantil.
Porisso não quero mais o que tanto desejei.

Quero viver um dia de cada vez,
tentando ser feliz.
Mas não se enganem, disfarço um pouco.
Há dias em que meus olhos
e meu sorriso são tão mentirosos...
Porque lá no fundo há

um vácuo, uma dor doída,
ferida horrenda, escondida...

1 de setembro de 2010

VIDA BOA


A vida é mesmo muito boa para quem se valoriza. Para quem se dá conta de que trabalhou, formou uma família, criou os filhos, educou-os para a vida e, agora deve continuar se amando e envestindo em sua própria vida: sem dramas, sem churumelas tipo "ai, meu Deus, estou sozinha, abandonada".

É o meu caso. Cinco filhos casados, treze netos, todos independentes.

Estou sozinha e sou muito feliz. Sou dona da minha vida, do meu tempo, das chaves da minha casa e do meu carro. Não é bom demais? Invisto em mim mesma. Faço o que gosto e o que quero. Encontro os amigos, as pessoas que quero bem, curto a programação cultural da cidade e alço vôo para outros lugares. Sobra tempo para apreciar a natureza, para ouvir músicas que são verdadeiras preciosidades e para curtir o silêncio.

Já escrevi aqui sobre esse assunto: o silêncio. Cada vez mais amo o silêncio e fico impaciente com a balbúrdia, os gritos e as músicas de mau gosto e ensurdecedoras.

Sei o que estão pensando: ando sem paciência, chata mesmo. E por que não?

Só porque agora penso mais em mim? Pois devemos ser assim.

Nós, mulheres e mães de família, passamos a vida toda repartindo o pão e a vida, reservando a melhor parte para os filhos e o marido. Por que não aproveitarmos essas doces fatias que estão agora à nossa disposição?

Quero agora a sombra e a água fresca, o queijo e a goiabada, o violão e os acordes, o amor e a poesia.

Ai, ai, que vida boa...