19 de abril de 2010

OS CINQUENTA ANOS DE BRASILIA

Faltam poucos dias para as comemorações dos 50 anos de Brasilia. Às vezes fico surpresa diante da rapidez do tempo. Aqui cheguei com meus pais aos onze, todos ávidos pelo trabalho e pela realização do sonho de Dom Bosco através das mãos de Juscelino Kubitschek.
Na 3ª Av. da Cidade Livre nos instalamos num barraco de madeira. Precariedade de todas as formas. Mas, a esperança... ah, essa era cada vez mais viva.
Corríamos até a mina, ao lado das chácaras dos japoneses, e apanhávamos água para o noso consumo. Mais abaixo as lavadeiras cuidavam das suas roupas. Eu ajudava minha mãe a estendê-las no arame e ficava feliz ao vê-las alvinhas depois do anil. Acendia o fogão de lenha de onde brotavam pratos goianos simples, mas gostosos e o café quentinho passado no coador de pano. Ainda hoje conservo o hábito de usar coadores de tecido.
Ia para a escola e à tarde ajudava minha mãe na lida com as suas costuras. Aprendi a costurar aos onze. Era o nosso ganha-pão. Foi a partir de então que comecei a amar os tecidos e hoje me realizo fazendo um retalho abraçar carinhosamente o outro.
À noite, embora na penumbra, brincávamos de roda e de passar anel, enquanto meus pais nos assistiam sentados em cadeiras, "na banda de fora".
Tenho orgulho de ter vivenciado essa época difícil, mas feliz.
Hoje pela manhã li um trecho dos escritos de Juscelino que destaco agora:
"Antes de ser construída, Brasilia foi uma polêmica. A mais longa que se travou no Brasil: viera da Colônia, atravessara todo o Império, entrara pela República, e continuava a ser, até o início do meu Governo - uma controvérsia e um desafio.
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Nunca hei de esquecer que, a 21 de abril de 1960, em Brasilia, contemplando a cidade que estava sendo inaugurada, minha mãe alongou o olhar para o horizonte recortado de edifícios de concreto armado e fez este reparo, com o orgulho generoso que as mães sabem ter:
-Só Nonô seria capaz de realizar tudo isto!"
Agora, mais do que nunca, em que toda a mídia está voltada para este aniversário de 50 anos de Brasilia, afloram as minhas lembranças do início dessa epopéia.

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