10 de novembro de 2010

ESTAGNAÇÃO

Desde minha última postagem, vivo o conflito de ter que alimentar meu blog e não sentir desejo de escrever.
Acho que sou uma falsa poeta. Ou simplesmente um ser humano confuso, ambivalente.
Quando decidi criar o blog, ingenuamente pensei que iria interagir com leitores.
Mas, diferentemente de outros blogueiros, minha atividade tem sido solitária. Posto o que tenho vontade, escrevo o que me sai do coração ou da razão e minhas palavras não encontram eco.
Não recebo comentários nem críticas. Morro na inanição. Não existe troca de opiniões, argumentos com quem quer que seja. Fiquei desestimulada.
Mesmo assim fico me cobrando e permanece em mim uma certa angústia de ter de escrever e, ao mesmo tempo, não sentir vontade de fazê-lo.
Tenho me sentido, por conta de disso, um ser estranho, desonesto, inadequado.
Hoje, porém, lendo mais uma vez Fernando Pessoa, encontrei um texto em que ele trata dessa mesma questão. Porisso repasso, com um certo alívio, porque me senti compreendida:
"Há muito tempo que não escrevo. Têm passado meses sem que viva, e vou durando, entre o escritório e a fisiologia, numa estagnação íntima de pensar e de sentir. Isto, infelizmente, não repousa: no apodrecimento há fermentação.
Há muito tempo que não só não escrevo, mas nem sequer existo. Creio que mal sonho. As ruas são ruas para mim. Faço o trabalho do escritório com consciência só para ele, mas não direi bem sem me distrair: por detrás estou, em vez de meditando, dormindo, porém estou sempre outro por detrás do trabalho.
Há muito tempo que não existo. Estou sossegadíssimo. Ninguém me distingue de quem sou.
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Há muito tempo que não sou eu."

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