11 de julho de 2011

TEXTO DE GIBRAN

Sempre admirei as obras de Gibran, desde a minha mocidade.

Gibran, nascido numa aldeia das montanhas do Líbano, era um reformador social e tinha em Jesus seu guia e sua esperança. Na época em que nasceu, a sociedade oriental, o povo era oprimido e explorado pelo clero e pela aristocracia.

Na sua primeira juventude, Gibran foi um rebelde na luta contra a iniquidade e mostrou sua rebeldia nos contos sentimentais e violentos, nos quais algum injustiçado se opõe heroicamente aos sacerdotes e feudos. Nesses contos, Gibran honra as virtudes.

Mas, foi no Evangelho de Gibran que o autor encontra sua maior inspiração: o amor aos pequenos, a condenação dos ricos, a coragem de enfrentar os poderosos e a pregação da verdade e da justiça. Em 1928, embora doente, decidiu escrever um livro sobre Jesus. Trabalhava até altas horas, ditando a Bárbara Young suas palavras, ocasião em que seu rosto refletia as grandes emoções que sentia. Retratou então Jesus como o homem mais sublime que já visitou a terra, um ser de sabedoria e forma ilimitadas, um poeta supremo, um irmão, um guia, o ideal de todos nós.
Li e releio sempre esse livro: JESUS, O FILHO DO HOMEM.
Há mais ou menos trinta anos, quando eu era ativa participante de movimentos católicos, fui convidada a preparar uma Reflexão sobre Jesus. Nela inserí trechos desse livro, em que Maria Madalena relata seu primeiro encontro com Jesus (na visão de Gibran). Todos os ouvintes ficaram emocionado e também eu.
Mas, passados alguns dias, foi recomendado a mim e a outros participantes que não usassem mais esse texto do Gibran no grupo em que eu participava.
Fiquei desapontada. Algum tempo depois deixei o grupo e continuei decidida a ler e apreciar todos os bons textos, de quem quer que fosse.
Aí vai um trecho:

"MARIA MADALENA

.......................................................................................................... Foi no mês de agosto que O vi novamente, através da minha janela. Estava sentado à sombra do cipreste, em meu jardim e estava imóvel como se tivesse sido talhado na pedra como as estátuas de Antióquia e das outras cidades do País do Norte.

E minha escrava, a egípcia, veio até mim e disse: "Aquele homem está novamente aqui. Está sentado ali, em vosso jardim."

E olhei para Ele, e minha alma estremeceu dentro de mim, pois Ele era belo.

Seu corpo era perfeitamente coordenado, e cada parte parecia amar cada outra parte.

Então, vesti-me com vestidos de Damasco, deixei minha casa e dirigi-me para Ele.

Seria minha solidão, ou seria Sua fragrância, que me impelia para Ele? Era uma fome em meus olhos que desejava a beleza ou era Sua beleza que buscava a luz dos meus olhos?

Ainda hoje não o sei.

Caminhei para Ele com meus vestidos perfumados e minhas sandálias douradas, as sandálias que o capitão romano me deu, sim, estas mesmas sandálias. Quando O alcancei, disse-lhe: Bom dia para vós."

E Ele disse: Bom dia para ti, Miriam."

E olhou para mim, e Seus olhos-de-noite me viram como nenhum outro homem jamais me tinha visto. E subitamente senti-me como se estivesse despida, e fiquei envergonhada.

Entretanto, Ele apenas dissera: "Bom dia para ti, Miriam."

E então eu Lhe disse: Não quereis entrar em minha casa?"

E Ele disse: "Já não estou em tua casa?"

Eu não sabia o que Ele queria dizer com isso, mas agora sei.

E Ele disse: Por que me convidas para ser teu hóspede?"

E eu disse: "Rogo-vos que entreis em minha casa." E era tudo o que era terra em mim e tudo o que era céu em mim chamando por Ele.

Então, Ele olhou-me, e o meio-dia dos Seus olhos estavam sobre mim, e Ele disse: "Tu tens muitos amantes; entretanto só eu te amo. Os outros homens amam a si mesmos quando te procuram. Eu te amo por ti mesma. Os outros homens vêem em ti uma beleza que desaparecerá mais cedo do que seus próprios anos. Mas Eu vejo em ti uma beleza que não esmaecerá e, no outono dos teus dias, esta beleza não terá receio de olhar-se no espelho, e não será ofendida.

Somente eu amo o que não se vê em ti."

...................................

E afastou-se caminhando.

Mas nenhum outro homem jamais caminhou da maneira como Ele caminhava. Era uma brisa nascido no meu jardim que se movia para o leste? Ou era uma tempestade que abalaria todas as coisas até seus alicerces?

Eu não sabia, mas naquele dia o poente de Seus olhos matou o dragão que havia em mim, e tornei-me uma mulher, tornei-me Miriam, Miriam de Mijdel."
Não é um texto valioso?

Um comentário:

Dudlhas Monteiro disse...

Trata-se de uma pérola a que poucos têm o prazer de conhecer, haja vista sua narrativa sutil e as palavras bem colocadas, enfim. Fiquei pasmo de tanta beleza escrita em tão poucas linhas.